sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Doe 15 minutos do seu dia!

Este projeto é muito simples, você não gastará nem 15 minutos, mas faz muito bem aos alvos que vão ser atingidos. Escreva algumas linhas com coisas positivas, desejando boa sorte ou dando força a alguém e encaminhe para o e-mail que está ao final deste texto, sua mensagem será impressa e levada para quem realmente precisa, pessoas em hospitais, em centros de oncologia, crianças carentes e de algumas instituições, se o projeto realmente der certo aguarde como retorno o recado de quem recebeu seu carinho.

Por favor colabore e-mails para maysaclean@gmail.com


Grata

Maysa Fernandes.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Cama...

Parando...

Díficil...

Continuando...

O corpo pesa como se levasse pedras no lugar do sangue. Os olhos cheios de olheiras, não há sono, não há sonhos. O dia se arrasta e a noite pisca, no fechar dos olhos, é manhã novamente. Doente? Dolorida! Peço arrego, fim deste dia. Cansaço, canseira, quero ler, nem que eu realmente queira. Extensão de seus laços... Queria o colo materno, sei que não tenho seus braços.

¬¬

Não choro, não vou chorar. Não vou entregar meu desespero, arrasar meu coração, destruindo os de quem amo. Olhe, não adianta... Escolhas... Lembra?

terça-feira, 17 de março de 2009

Pelas tabelas

"Foi-se tempo em que tristeza era mal de amor"

Quando chorei, chorei mesmo.
Eram lágrimas de anos atrás, de ontem e de hoje de manhã. Eram meu passado, presente e futuro incerto. Eram famílias que não foram, eram carinhos que não eram, eram esperanças que se dissolveram num mar de angústias. O medo, a dor, a febre...
"Não! Eu não posso lembrar que te amei!"
Vanusa, não se diz isso a uma mãe. Acredito que por mais que esta lhe renegue, não se deve dizer este tipo de coisa, porque de fato não tenho fé de que aconteça.
Se meu peito expressasse sua dor como deveria eu me mataria, isso seria morrer de amor. Talvez deixasse de ser um fantasma e ela ligasse pra "porra" da minha vida, pelo menos por culpa. Hoje tristeza não é mais um mal de amor e sim um mal da falta dele. Crianças se criam, são gênesis e gênesis de crianças se proliferando sem A-M-O-R, sem amar. O animal homem deixa de ser racional, deixa de ser instintivo e “evolui” para um bicho perambulante ignorante coletivo, incapaz de conceituar justiça e afeto. Todos passam por todos, se puderam sugar algo do outro ótimo, senão melhor não passasse pelo caminho e deixasse outros virem!
Quem dera conseguisse passar dormente por tudo isso, quem dera não temesse a úlcera. Possível loucura, eu queria ficar louca! Estar louca! Desvairada! Matá-la, morrê-la em mim, para não suicidar-me. Procria, cria, vadia...

EU TE AMO!

quinta-feira, 12 de março de 2009

O rouxinol e o imperador da china.

De quando criança, lembro de duas estorinhas, eis uma delas:

O rouxinol e o imperador da china.

Sabem com certeza que na China o imperador é chinês e que todas as outras pessoas são chinesas também. Esta história aconteceu há muitos anos, mas é precisamente por isso que devem ouvi-la agora, antes que seja esquecida.
O palácio do imperador era o melhor do Mundo, todo ele construído da mais rara porcelana — não tinha preço, mas era tão frágil e delicado que era preciso tomar todo o cuidado quando se andava lá dentro. O jardim do palácio estava coberto de flores maravilhosas, nunca vistas em outro lado; as mais bonitas de todas tinham sininhos de prata, que tocavam para se saber sempre que passava alguém.
Sim, tudo no jardim do imperador tinha sido muito bem planeado, e ele estendia-se até tão longe que nem o jardineiro fazia a menor ideia onde acabava. Se se fosse sempre andando chegava-se a uma bela floresta com árvores muito altas e lagos muito fundos. A floresta ia até ao mar, que era azul e também muito fundo; grandes navios podiam navegar mesmo por baixo dos ramos das árvores. Nesses ramos vivia um rouxinol que cantava tão bem que até o pobre pescador, com todas as suas dificuldades, parava de deitar as redes todas as noites para o ouvir.
— Ah, que maravilha! — dizia ele.
Mas depois tinha de continuar a trabalhar e esquecia-se da ave. Contudo, na noite seguinte, assim que o rouxinol tornava a cantar, o pescador erguia os olhos das redes e dizia mais uma vez:
— Ah, que maravilha!
Vinham viajantes de todos os países do Mundo para admirar a cidade, o palácio e os jardins do imperador. Mas, assim que ouviam o rouxinol, todos diziam:
— Isto é o melhor de tudo!
E, quando voltavam aos seus países, continuavam a falar da ave. Sábios escreveram livros sobre a cidade e o palácio, mas o rouxinol era elogiado mais do que todas as outras maravilhas, e poetas escreveram emocionantes poemas sobre a ave da floresta perto do mar.
Estes livros eram lidos em todo o mundo, e, um dia, alguns deles chegaram às mãos do imperador. Lá ficou ele, sentado na sua cadeira dourada, a ler sem parar; de vez em quando acenava com a cabeça. Estava contente com as esplêndidas descrições do seu reino. Então, chegou à frase: "Mas, apesar de todas estas maravilhas, nada se compara ao rouxinol."
— Que é isto?! — exclamou o imperador. — O rouxinol? Nunca ouvi falar dele. Imaginem! As coisas que aprendemos nos livros!
Então mandou chamar o camareiro.
— Vi aqui neste livro que temos uma ave admirável chamada rouxinol — disse o imperador. — Parece que é a melhor coisa do meu vasto império. Por que é que ninguém me falou dele?
— Bem — respondeu o camareiro —, nunca ouvi ninguém falar nessa criatura. De certeza que nunca foi apresentada na corte.
— Quero que venha aqui esta noite cantar para mim — disse o imperador. — É uma vergonha que toda a gente saiba o que possuo e eu não!
— Nunca ouvi falar nele — repetiu o camareiro —, mas vou procurá-lo e hei-de encontrá-lo!
Sim, mas onde? O camareiro subiu e desceu todas as escadas, andou por todos os salões e corredores, mas, de todas as pessoas que encontrou, nenhuma tinha ouvido falar do rouxinol. Voltou apressado à presença do imperador e disse-lhe que aquilo devia ser uma história inventada pelos escritores.
— Vossa Majestade Imperial não deve acreditar em tudo o que aparece escrito. As coisas que os autores inventam! É mesmo magia negra!
— Mas o livro onde eu soube da ave — afirmou o imperador — foi-me enviado pelo poderoso imperador do Japão, portanto não pode ser mentira! Quero ouvir o rouxinol! Quero ouvi-lo esta noite.
— Tsing-pe! — respondeu o camareiro.
E lá foi ele outra vez escada abaixo e escada acima, por todos os salões e corredores; metade da corte andava a correr atrás dele. Por fim, encontraram uma pobre rapariguinha na cozinha.
— O rouxinol? — perguntou ela. — Meu Deus! Claro que sei! Que bem que ele canta! A maior parte das noites deixam-me levar para casa alguns restos de comida para a minha mãe, que está doente. Vivemos perto do lago, do outro lado da floresta. E quando volto para o palácio, cansada, sento-me um bocadinho e fico a ouvi-lo cantar.
— Rapariguinha! — exclamou o camareiro —, ofereço-te um lugar permanente na cozinha e dou-te licença para veres o imperador a jantar se nos levares até ao rouxinol. A sua presença é exigida esta noite na corte.
Então, partiram em direcção à floresta onde o rouxinol costumava cantar; mais de metade da corte foi com eles. Enquanto iam andando, uma vaca mugiu.
— Oh! — exclamou um pajem. — Já estou a ouvi-lo! Para um animalzinho tão pequeno faz um barulho extraordinário. Mas, sabem, tenho a certeza de já o ter ouvido.
— Não, não, aquilo é uma vaca a mugir! — exclamou a rapariguinha. — Ainda temos de andar muito.
As rãs começaram a coaxar num charco.
— Maravilhoso! — exclamou o capelão do imperador. — Já estou a ouvir a canção! Parecem mesmo sininhos de igreja!
— Não, não, isso são rãs — disse a rapariguinha da cozinha. — Mas devemos estar quase a ouvi-lo.
Então, o rouxinol começou a cantar.
— Lá está ele! — disse a rapariguinha. — Oiçam! Olhem! Está ali! — e apontou para um passarinho cinzento por entre os ramos.
— Será possível? — exclamou o camareiro. — Nunca pensei que fosse assim. Parece tão vulgar! Tão simples! Talvez tenha perdido a cor quando viu todas estas visitas importantes.
— Rouxinolzinho! — chamou a rapariguinha. — O nosso gracioso imperador gostaria muito que cantasses para ele.
— Com o maior prazer — disse o rouxinol, continuando a cantar tão bem que era um encanto ouvi-lo.
— Parecem mesmo sinos de vidro — disse o camareiro. — Não percebo como é que nunca o tínhamos ouvido. Vai ser um êxito na corte!
— Querem que torne a cantar para o imperador? — perguntou o rouxinol, que pensava que uma das visitas era o imperador.
— Excelentíssimo rouxinol — disse o camareiro —, tenho a honra e o prazer de o convidar para um concerto no palácio esta noite, onde encantará Sua Majestade Imperial com as suas lindas cantigas.
— Soam melhor na floresta — afirmou o rouxinol.
Apesar disso, foi com eles de boa vontade quando ouviu dizer que era desejo do imperador.
Entretanto, que limpezas iam pelo palácio! As paredes e o soalho de porcelana brilhavam, lustrosos, à luz de milhares de luzes douradas. Mesmo no meio do grande salão, junto do trono do imperador, estava um poleiro dourado para o rouxinol. Toda a corte estava presente, e a pequena criadinha da cozinha teve autorização para ficar atrás da porta, porque já tinha o título oficial de Verdadeira Criada de Cozinha. Todos os olhos estavam postos no passarinho cinzento quando o imperador lhe fez sinal que começasse.
Então, o rouxinol cantou tão bem que o imperador ficou com os olhos cheios de lágrimas, que lhe escorreram pelas faces; e o rouxinol continuou a cantar ainda melhor, de modo que cada nota foi direitinha ao coração do imperador. Este ficou muito satisfeito; o rouxinol, declarou ele, iria receber o seu sapato dourado para usar ao pescoço. Mas este agradeceu e recusou, porque já se sentia recompensado.
— Vi lágrimas nos olhos do imperador. Pode lá haver alguma dádiva maior do que essa? As lágrimas de um imperador têm um poder estranho. Já fui suficientemente recompensado.
E cantou mais uma canção com a sua voz maviosa.
— Muito espirituoso, muito divertido; a criatura é namoradeira — diziam as damas da corte, enchendo as bocas de água para fazerem um ruído de gargarejo.
Por que é que não haviam de ser também rouxinóis? Até os lacaios e as criadas de quarto acenavam, com ar de aprovação, o que significa muito, porque estes são sempre os mais difíceis de contentar. Não havia dúvida: o rouxinol era um êxito.
Ficaria na corte e teria uma gaiola só para si, com autorização para ir apanhar ar duas vezes durante o dia e uma vez à noite. Seria acompanhado, em cada excursão, por doze criados, cada um a segurar firmemente uma fita de seda atada a uma patinha da ave. Não, essas saídas não eram muito divertidas.
Um dia, chegou um grande embrulho para o imperador. Trazia uma palavra escrita por fora: ROUXINOL.
— Olha! Outro livro sobre a nossa famosa ave! — exclamou o imperador.
Mas não era um livro; era um pequeno brinquedo mecânico dentro de una caixa, um rouxinol de corda. Tinha o feitio de um verdadeiro, mas estava coberto de diamantes, rubis e safiras. Quando se lhe dava corda, cantava uma das canções que o verdadeiro passarinho costumava cantar, e a sua cauda andava para baixo e para cima, brilhando em prata e ouro. A volta do pescoço trazia uma fita, onde estava escrito: "O rouxinol do imperador do Japão nada vale comparado com o rouxinol do imperador da China."
— Que maravilha! — disseram todos.
E o mensageiro que tinha trazido o presente recebeu o título de Principal Portador Imperial de Rouxinóis.
— Agora têm de cantar juntos. Que dueto que vai ser!
Então os dois passarinhos tiveram de cantar juntos, mas não foi um êxito. O problema era que o verdadeiro rouxinol cantava à sua maneira e a canção do outro saía de uma máquina.
— Isto não é vergonha nenhuma — afirmou o Mestre da Música Imperial. — Está perfeitamente afinado: na realidade, ele até podia ser um dos meus alunos.
Então, o pássaro de corda foi posto a cantar sozinho. Agradou quase tanto à corte como o verdadeiro, e evidentemente que era muito mais bonito à vista, todo brilhante, como uma pulseira ou um alfinete de peito. Cantou a mesma canção trinta e três vezes sem se cansar. Os cortesãos não se importariam de a ouvir mais umas vezes, mas o imperador achou que era a vez do verdadeiro.
Mas onde estava o rouxinol? Tinha voado pela janela, para a sua floresta verdejante, sem ninguém dar por isso.
— Tch, tch, tch! — fez o imperador, aborrecido. — Que significa isto?
E os cortesãos resmungavam e franziam as testas.
— Mas temos aqui o melhor! — disseram.
E o rouxinol de corda teve de cantar outra vez.
Era a trigésima quarta vez que o ouviam, mas ainda não sabiam bem a canção. Era difícil de aprender. E o Mestre da Música Imperial teceu à ave os mais altos elogios: era superior ao rouxinol vivo, não apenas na aparência exterior, mas também no que tinha lá dentro.
— Sabem, senhores e senhoras e, acima de todos, Vossa Majestade Imperial, com o verdadeiro rouxinol nunca se sabe o que vai acontecer, mas com a ave de corda tem-se a certeza; é tudo fácil: podemos abri-la e ver como pensa, como cada nota segue a outra com precisão!
— Era isso mesmo o que eu estava a pensar — ouviu-se aqui e ali.
E, na segunda-feira seguinte, o Mestre da Música Imperial foi autorizado a mostrar publicamente o pássaro ao povo. Também ele devia ouvi-lo cantar, tinha declarado o imperador. E assim foi. E ficaram todos tão entusiasmados como se estivessem tontos de beberem muito chá, um antigo costume chinês. Disseram todos:
— Ah!
E levantaram os indicadores e acenaram com as cabeças.
Mas o pobre pescador, que tinha ouvido o verdadeiro rouxinol, afirmou:
— Lá bonito é... e até parece o rouxinol... Mas parece que falta qualquer coisa, não sei bem...
O verdadeiro rouxinol foi banido do reino do imperador.
O pássaro artificial recebeu um lugar especial numa almofada de seda junto da cama do imperador; empilhados à volta estavam todos os presentes que lhe tinham dado, todo o ouro e jóias. Foi distinguido com o título de Principal Trovador Imperial da Mesa-de-Cabeceira, Primeira Classe à Esquerda, porque até os imperadores têm o coração do lado esquerdo. O Mestre da Música Imperial escreveu um solene trabalho em vinte e cinco volumes sobre o pássaro mecânico. Era muito extenso e erudito, cheio das mais difíceis palavras chinesas. Mas toda a gente fingiu que o tinha lido e compreendido. Ninguém queria passar por estúpido!
Tudo isto continuou durante um ano, até que o imperador, a corte e o resto do povo chinês sabiam de cor cada notazinha da canção do passarinho de corda; mas, por isso mesmo, cada vez gostavam mais dela. Podiam cantá-la em coro — e faziam-no.
Os rapazitos da rua andavam por todo o lado a cantar: rrr, trrr, piu, piu, piu, e o imperador também cantava — um som maravilhoso, não havia dúvida.
Mas, uma noite, precisamente quando o pássaro de corda estava a cantar e o imperador, deitado na cama, o ouvia, qualquer coisa fez "crac!" dentro do pássaro. Brrrr! O mecanismo continuou a rodar, e a música parou. O imperador saltou da cama e mandou chamar o seu médico. Mas de que servia o médico? Então foram buscar o relojoeiro, e este, depois de muitas resmungadelas e mexidelas no pássaro, conseguiu arranjá-lo mais ou menos. Mas preveniu toda a gente de que tinha de ser usado muito poucas vezes; as peças estavam quase gastas por completo e não era possível substituí-las sem estragar o som.
Que golpe horrível! Não se atreviam a pôr o pássaro a cantar mais do que uma vez por ano, e mesmo isso já era um risco. Contudo, nessas ocasiões anuais, o Mestre da Música Imperial fazia sempre um discurso cheio de palavras difíceis, dizendo que o pássaro estava tão bom como sempre — e, claro, uma vez que ele dizia que sim, era porque ele estava tão bom como sempre...
Passaram cinco anos, e uma grande tristeza abateu-se sobre o país. O povo era muito amigo do imperador, mas ele estava gravemente doente e não se esperava que sobrevivesse. Já tinha sido escolhido novo imperador, e a multidão esperava nas ruas que o camareiro lhe desse notícias. Como estava o imperador? O camareiro abanava a cabeça.
Frio e pálido, o imperador jazia no seu leito real. Na verdade, a corte achava que já tinha morrido e foi a correr saudar o seu sucessor. Os criados de quarto foram a correr coscuvilhar uns com os outros e as criadas juntaram-se todas para beberem café,. Tinham sido estendidos panos pretos em todos os salões e corredores para amortecer o som dos passos, de maneira que o palácio parecia muito, muito sossegado.
Mas o imperador ainda não tinha morrido. Pálido e imóvel, jazia na sua magnífica cama com longos cortinados de veludo e pesados cordões dourados. Através de uma janela aberta lá no alto, a Lua brilhava sobre o imperador e o pássaro artificial.
O pobre imperador mal podia respirar; sentia como se tivesse qualquer coisa a pesar-lhe sobre o coração. Abriu os olhos e viu a Morte sentada sobre ele. A Morte tinha a coroa de ouro do imperador na cabeça, numa das mãos segurava a espada imperial de ouro e na outra a esplêndida bandeira imperial. E, por entre os cortinados de veludo, espreitavam estranhos rostos: alguns horríveis e outros belos e bondosos. Eram as boas e as más acções do imperador, que olhavam para ele, enquanto a Morte se sentava sobre o seu coração.
— Lembras-te?... Lembras-te?... — diziam os rostos baixinho, um a seguir ao outro.
E contaram e lembraram tantas coisas que a testa do imperador acabou por ficar coberta de suor.
— Nunca soube... nunca percebi... — gritou ele. — Música, música! Toquem o grande tambor da China! Salvem-me destas vozes!
Mas as vozes não se calavam. Continuavam sempre, enquanto a Morte acenava com a cabeça, como um mandarim, a tudo o que diziam.
— Música! Dêem-me música! — pedia o imperador. — Belo passarinho dourado, canta, peço-te que cantes! Dei-te ouro e coisas preciosas; pendurei o meu sapato dourado ao teu pescoço com as minhas próprias mãos. Canta, peço-te, canta!
Mas o pássaro estava silencioso; não havia ninguém para lhe dar corda, e sem corda não tinha voz. E a Morte continuava a olhar fixamente para o imperador com as grandes órbitas vazias. Tudo estava calado, terrivelmente calado.
Então de repente, perto da janela, soou a mais bela canção. Era o verdadeiro rouxinol, que se tinha empoleirado num ramo lá fora. Sabendo do mal do imperador, o passarinho tinha voltado para o confortar e trazer-lhe esperança.
À medida que cantava, as firmas fantasmagóricas foram desaparecendo, até se desvanecerem. O sangue começou a correr mais depressa pelo corpo do imperador. A própria Morte ficou presa à canção.
— Canta mais, canta mais, pequeno rouxinol! — pediu a Morte.
— Canto, se me deres a grande espada de ouro... sim, e a bandeira imperial... e a coroa do imperador...
E a Morte devolveu cada um dos tesouros em troca de uma canção e o rouxinol continuou a cantar. Cantou sobre o calmo adro da igreja onde cresciam as rosas brancas, onde as flores do sabugueiro cheiravam tão bem, onde a erva fresca está sempre verde por causa das lágrimas dos que ali choram os seus mortos. Então, a Morte encheu-se de saudades do seu jardim e saiu pela janela, flutuando como um nevoeiro gelado.
— Obrigado, obrigado! — disse o imperador.
— Passarinho celestial, sei quem és! Eu bani-te do meu reino e, no entanto, só tu vieste ajudar-me, e afastaste os horríveis fantasmas da minha cama e libertaste o meu coração da Morte. Como hei-de recompensar-te?
— Já me recompensaste — respondeu o rouxinol. — Quando cantei para ti da primeira vez caíram-te lágrimas dos olhos e essa dádiva não posso esquecer. Essas são as jóias que não se compram nem se vendem. Mas agora tens de dormir para ficares bom e forte. Olha, vou cantar para ti.
E cantou e o imperador caiu num sono calmo e reparador.
O Sol brilhava sobre ele através da janela quando acordou, restaurado, desaparecidas a fraqueza e a doença. Nenhum dos criados tinha lá entrado ainda, porque todos pensavam que ele estava morto.
— Tens de ficar sempre comigo — disse o imperador. — Mas só cantas quando quiseres. E, quanto ao pássaro de corda, vou parti-lo em mil bocados.
— Não faças isso — respondeu o rouxinol. — Fez o que pôde por ti. Guarda-o. Eu não posso morar num palácio, mas deixa-me ir e vir à minha vontade, e à noite empoleiro-me neste ramo, junto da tua janela, e canto para ti. Hei-de trazer-te felicidade, mas também pensamentos sérios. Hei-de cantar sobre as pessoas felizes do teu reino, mas também sobre os que se sentem tristes. Cantarei sobre o bem e o mal, que têm estado sempre à nossa volta, mas que têm sempre escondido de ti. Os passarinhos voam em todas as direcções, até ao pescador, à casinha do trabalhador, até junto de tantos que estão longe de ti e da tua corte magnífica. Amo o teu coração mais do que a tua coroa, apesar de a coroa ter algo de mágico. Sim, hei-de voltar, mas tens de me prometer uma coisa.
— O que quiseres! — exclamou o imperador.
Tinha-se levantado e vestido as suas roupas imperiais e segurava a espada dourada junto do coração.
— A única coisa que te peço é isto: não digas a ninguém que tens um amigo passarinho que te conta tudo. É melhor guardar segredo.
E, com estas palavras, o rouxinol voou para longe. Os criados vieram ver o amo morto, mas ficaram ali especados!
— Bom dia! — disse o imperador.


Hans Christian Andersen

quinta-feira, 5 de março de 2009

Vitral...

Visceral, escrito, tatuado,
banido, bandido, mascarado.
Num rosa sol, arrebol, lusco-fusco,
fim de dia, agonia, janela, cadê ela?
Cadela, estragou minha harmonia.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Desbanco.

Beijo na testa, me testa? Nem ligo, não quero este compromisso, nada que cobre além de mim. Sou assim! Sou "besta" pra alguém? Besta quem se faz de besta e isso não sou. Sou colo e afago, e tudo aquilo que não tive, pois os que estão ao meu redor merecem ter, infelizmente a maioria das pessoas, como minha família, não entende e exige comportamentos que não são meus, cansei de usar fantasias. Tenho me sentido tão leve ultimamente, sem "mascarar" a vida para alegrar gregos e troianos, estes ainda me interessam, mas, se me acatarem como sou. Minha mãe não se abre ao meu carinho, eu continuo carinhosa. Será que devo parar e ser indiferente só porque ela quer que eu transpasse imagem de forte? Ela nem sonha o quanto a filha dela já é forte. Perdi minha avó, antes de ontem... Sabe, fiquei péssima, não comentei isso com ninguém a não ser meu namorado, só eu sabia como estava por dentro, e fui a mesma Maysa de sempre para todos, porque sou assim. Se transpasso mentira em algo, provavelmente é alguma coisa que me mata e não quero que atinja as outras pessoas para que não passem o que sinto. Esqueço que por mais que a mim seja importante, tem um mar de gente que está pouco se lixando. Esqueço que não se dá valor ao que realmente interessa e que só quando o chamarei de "objeto do desejo" some e que se dá valor, triste. Por isso tento percorrer o caminho contra, a maré contrária deste povo insensível, o mundo não está insano, ele só parou de sentir as coisas à sua volta. Tudo ficou banal, eu me recuso às banalidades. Eu não me permito dizer não para o que posso fazer, mas confesso que isso no contexto destes dias significa escolher a quem fazer o bem, e dane-se o olhar a quem, melhor explicando, quero saber quem ajudo, mas não faço questão de que saiba que sou eu. Meu sorriso, meu choro, meu ego, meu desgosto, um eu e meu oposto, todas os conflitos e indecisões, meu sobrenome, o desafeto, meu coração exposto e expurgado, sem nota nem contrato, eu e nenhum cheque, pelo que sou e assumo, assim sou e opto por pagar o preço que for preciso.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

À você, ave de mar...

Vem, mostra seu mundo azul céu, indica os caminhos do oceano profundo, volta! Conte das ondas e das marés. Fale sobre os peixes da água salgada, dessas tais algas e de como são os seres marinhos. Diga quais são os tons de azul de lá. O que é voar para você? Quero saber como batem suas asas e a brisa dos rochedos no seu bico. Como são os corais e de que são feitos. Quem é Iemanjá? Por que tanto respeito? Os outros pássaros como são? Lembro a primeira vez que te vi, o doce mistério de um ser de outro contexto, nova cultura e todo vasto conhecimento vivo de coisas que só se ouvi falar aqui nos rios de água doce. O que é primavera? Qual o gosto da água? Queria saber do seu bico... Das suas penas brancas... Desses dedos interligados... Quero conhecer o frio, quero que você me leve para conhecer o frio. Ave de mar... Eu quero você!

Ass: Ave de rio.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Azul...

Em meus dias mais brancos, eu cantava pela casa.
Quando vermelhos eu corria.
Se verdes, fazia tranças em meus cabelos.
Mas os azuis...
Eram nos dias azuis que voltava a ser criança.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Onze anos.

Havia um quintal em minha casa. Era grande cheio de árvores frutíferas, tinha um galinheiro com muitos patos e galinhas, uma colméia de abelhas, várias pimenteiras, e muita terra para correr. Quando chovia, eu olhava pela janela a dança que as plantas faziam com o vento e amava a sensação do vento frio em rosto, assim que o sol abria corria para brincar de boneca no meio da lama, depois "dar bronca" na minha filha por estar toda suja, ora era só mais um pretexto para dar banho de verdade na minha filha de mentirinha. Mas minha boneca era danada demais, comia as frutas do quintal e ficava toda lambuzada, ou seja sempre existia um motivo para banhá-la. O dia custava amanhecer e eu acordava muito cedo, ficava em frente da televisão vendo desenho animado até o sol começar a esquentar e eu poder correr para fora de casa. Meus pais me proibiam de brincar na rua, nas vezes que brinquei sempre foi escondido, mas numa cidade como aquela minúscula na qual eu vivia, escondido durava no máximo meia hora, eu voltava para casa sob vários bordões de D. Ângela, como aquilo era feio para uma menina como eu e etc. Triste eu voltava para minhas músicas antigas e para os livros corroídos nas prateleiras cheias de cupins. Comecei a escrever pequenos textos durante o tempo que passava só, depois de encher vários cadernos vi que passava tempo demais sozinha, mas nem de longe isso me incomodou. Com canetas coloridas e um caderno comprado fiado na loja do primo eu ía para o pé das árvores, anotava as conversas que tinham durante o chá minha filha, a rede feita de perna de calça jeans e o tubo de linha encantado. Algumas vezes meus primos vinham brincar comigo, infelizmente desses dias não tenho relatos. Quando eu já estava cansada de fazer tudo aquilo que normalmente eu fazia, começava a aproveitar o que eu julgava serem os prazeres escondidos da vida, coisas que eu apreciava e que pensava que ninguém mais sentia, como enfiar a mão na terra ou areia, andar descalça na grama, na rua, na lama, no tapete... Pegar os bichos e sentir penas e pêlos nas pontas dos dedos, esperar a noite para deixar o orvalho cair sobre o rosto. Costumava acordar no meio da noite e ir para a varanda para ver o luar, mas toda vez minha mãe acordava também, as vezes me fazia ir dormir, as vezes não falava nada e ficava ali comigo até que o sono chegasse e voltássemos para dentro para dormir. Em fevereiro começaram as aulas, minha rotina mudou pouca coisa nos horários em que eu não estava em sala de aula. Depois de alguns meses comecei a fazer novas amizades, me encantei com a vida de vocação, fui ter aulas de violão, a partir daí meus dias mudaram e certa parte de mim também... Foi quando fiz doze anos.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Espelho.

“De onde vem a calma? Salmo 120.”

O objeto mais falante que conheço. Diante dele me prendi durante longas horas, nada demais e tudo de não imaginável num mundo desconhecido. Temo aquilo que não controlo, minha vida depende do que sei e posso manusear. O que não sei me assusta pois não sei como me afetará. Sou meu maior vilão. Na frente daquele pedaço de vidro vi um monte de carne, pode apodrecer e desfazer-se a qualquer momento, tão frágil, irrelevante, vi a multidão de carnes sem poder distinguir qual pedaço eu era. Me vi no todo, na verdade não me vi, e isso me incomodou bastante. Nada se destacava naquele infinito pútrido. Apenas ficavam ali, inertes e complacentes. Um brilho prateado passou sobre a terra. Era a foice da morte. Atônitos ficaram e morreram, desintegraram-se (incluindo a mim). O quadro de madeira transfigurou-se num fundo dourado inebriante, meus melhores discursos, minhas atuações, boas ações, meu lado mais humano, meus abraços e tudo aquilo que me caracterizava como uma pessoa naturalmente boa passava como uns flashes, slides voadores e circulavam ao redor como se eu estivesse no centro de um tornado do meu melhor. Ao olhar para cima eu via nuvens muito brancas de onde vinha chuva, água que caía e sumia, não atingia o chão, não molhava. Vi estrelas cadentes romperem as alvas nuvens e desmancharem-se como fogos de artifício, nisto o céu foi encarnando-se até ficar completamente rubro, as cenas flutuantes que me rodeavam caíram por chão e desfizeram-se em sangue. Estava sozinha num mar vermelho, vermelho de sangue, em todos os tons, até o céu. Há vários quilômetros de distância de onde eu estava caiu sobre o solo uma grande bola vermelha, eu não conseguia distinguir o que era a princípio, foi então tal qual um tapete, aquilo começou a se desenrolar. Era uma língua gigante que bifurcava-se em dois chicotes enormes que debatiam-se e da saliva que escoria de suas pontas queimava tudo que tocava, além disso saiam sons de suas papilas, eles perambulavam como fossem notas musicais em uma partitura e a tudo que tocavam partiam ao meio como navalha. Eram mentiras indizíveis e inteligíveis. Tantas eram que não conseguia ouví-las ou discerní-las umas das outras. Fizeram de mim pó, e do pó, partículas e como partícula saciei a fome de todos os germes imundos, tornando-me inferior até as larvas que consumiram as carnes podres do seres vivos sem valor.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Recomeçando?

Tenho algumas coisas para perguntar a você. Primeiro tenho que dizer o quanto amo você. Quero me sanar. Sei que fui horrível e que te fiz muito mal, assim como matei a mim mesma por dentro. Foi de tudo meu pior. Hoje com mais tranquilidade e passados os momentos da fúria, me peguei só e com muita coisa para absorver, pensei que talvez fossem coisas demais para eu compreender, mas estou aqui. Não posso depositar em você meus desejos e querer que eles também sejam seus, isso não seria compartilhar. O que posso fazer é falar e deixar que você decida o melhor para você. Minhas arestas criadas com muita dor e porrada não sararão do dia para a noite, eu as reconheço, mas necessito que você tenha paciência e de vez em quando faça algo que odeia: Puxe minha orelha! Eu preciso e ninguém mais fará isso além de você. Quero ser amada e não mais me iludir que não valho a pena. Hoje eu sei o quão sou valorosa, mas também sou ciente que sou passivél de recaídas de auto estima. Você também teria que se abrir realmente comigo, me deixar saber o que há debaixo da couraça. Agora estou precisando de mais tempo e acho que você também. O que pergunto é:
1- Você me quer a seu lado?
2- Você estaria disposto a doar-se assim?
3- Você se abriria?
4- Você vai me esperar?

8/

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Acordando...

Peço favor não me pergunte!
Se teu mundo é razão, o meu é sentimento.
Você não viu racionalidade em mim
Eu não enxerguei a paixão em você.
Álcool, drogas, livros, teorias e bom sexo
não compõem um todo, um namorado.
Onde está seu verdadeiro eu?
O meu sumiu, escondi, menti.
Porque era injusto e você sabe.
Suas “tentativas” não tinham sabor de quem ama
nem sequer as faíscas.
Paranóia ou não fui julgada
E comparada ao pior de você
E seu pior parecia ser tudo que eu dizia.
Nunca nem senti vontade de trair com outra pessoa
Eu girava em torno de um esteio oco
acreditando ser madeira maciça.
Triste! Foi muito amor desperdiçado.
Foi muito caco espalhado e ainda é.
Um casal tem que dividir, compartilhar... Né?!
O que você dividiu comigo que não fosse superficial?
Acredite na sua forma de pensar e assim fique bem,
racionalize tudo a seu entendimento
esqueça que houve outro lado na história.
Tanto eu como você nunca deixamos ninguém se aproximar.
Somos iguais demais, em sentidos diferentes.
Agora vou dormir!