quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

À você, ave de mar...

Vem, mostra seu mundo azul céu, indica os caminhos do oceano profundo, volta! Conte das ondas e das marés. Fale sobre os peixes da água salgada, dessas tais algas e de como são os seres marinhos. Diga quais são os tons de azul de lá. O que é voar para você? Quero saber como batem suas asas e a brisa dos rochedos no seu bico. Como são os corais e de que são feitos. Quem é Iemanjá? Por que tanto respeito? Os outros pássaros como são? Lembro a primeira vez que te vi, o doce mistério de um ser de outro contexto, nova cultura e todo vasto conhecimento vivo de coisas que só se ouvi falar aqui nos rios de água doce. O que é primavera? Qual o gosto da água? Queria saber do seu bico... Das suas penas brancas... Desses dedos interligados... Quero conhecer o frio, quero que você me leve para conhecer o frio. Ave de mar... Eu quero você!

Ass: Ave de rio.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Azul...

Em meus dias mais brancos, eu cantava pela casa.
Quando vermelhos eu corria.
Se verdes, fazia tranças em meus cabelos.
Mas os azuis...
Eram nos dias azuis que voltava a ser criança.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Onze anos.

Havia um quintal em minha casa. Era grande cheio de árvores frutíferas, tinha um galinheiro com muitos patos e galinhas, uma colméia de abelhas, várias pimenteiras, e muita terra para correr. Quando chovia, eu olhava pela janela a dança que as plantas faziam com o vento e amava a sensação do vento frio em rosto, assim que o sol abria corria para brincar de boneca no meio da lama, depois "dar bronca" na minha filha por estar toda suja, ora era só mais um pretexto para dar banho de verdade na minha filha de mentirinha. Mas minha boneca era danada demais, comia as frutas do quintal e ficava toda lambuzada, ou seja sempre existia um motivo para banhá-la. O dia custava amanhecer e eu acordava muito cedo, ficava em frente da televisão vendo desenho animado até o sol começar a esquentar e eu poder correr para fora de casa. Meus pais me proibiam de brincar na rua, nas vezes que brinquei sempre foi escondido, mas numa cidade como aquela minúscula na qual eu vivia, escondido durava no máximo meia hora, eu voltava para casa sob vários bordões de D. Ângela, como aquilo era feio para uma menina como eu e etc. Triste eu voltava para minhas músicas antigas e para os livros corroídos nas prateleiras cheias de cupins. Comecei a escrever pequenos textos durante o tempo que passava só, depois de encher vários cadernos vi que passava tempo demais sozinha, mas nem de longe isso me incomodou. Com canetas coloridas e um caderno comprado fiado na loja do primo eu ía para o pé das árvores, anotava as conversas que tinham durante o chá minha filha, a rede feita de perna de calça jeans e o tubo de linha encantado. Algumas vezes meus primos vinham brincar comigo, infelizmente desses dias não tenho relatos. Quando eu já estava cansada de fazer tudo aquilo que normalmente eu fazia, começava a aproveitar o que eu julgava serem os prazeres escondidos da vida, coisas que eu apreciava e que pensava que ninguém mais sentia, como enfiar a mão na terra ou areia, andar descalça na grama, na rua, na lama, no tapete... Pegar os bichos e sentir penas e pêlos nas pontas dos dedos, esperar a noite para deixar o orvalho cair sobre o rosto. Costumava acordar no meio da noite e ir para a varanda para ver o luar, mas toda vez minha mãe acordava também, as vezes me fazia ir dormir, as vezes não falava nada e ficava ali comigo até que o sono chegasse e voltássemos para dentro para dormir. Em fevereiro começaram as aulas, minha rotina mudou pouca coisa nos horários em que eu não estava em sala de aula. Depois de alguns meses comecei a fazer novas amizades, me encantei com a vida de vocação, fui ter aulas de violão, a partir daí meus dias mudaram e certa parte de mim também... Foi quando fiz doze anos.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Espelho.

“De onde vem a calma? Salmo 120.”

O objeto mais falante que conheço. Diante dele me prendi durante longas horas, nada demais e tudo de não imaginável num mundo desconhecido. Temo aquilo que não controlo, minha vida depende do que sei e posso manusear. O que não sei me assusta pois não sei como me afetará. Sou meu maior vilão. Na frente daquele pedaço de vidro vi um monte de carne, pode apodrecer e desfazer-se a qualquer momento, tão frágil, irrelevante, vi a multidão de carnes sem poder distinguir qual pedaço eu era. Me vi no todo, na verdade não me vi, e isso me incomodou bastante. Nada se destacava naquele infinito pútrido. Apenas ficavam ali, inertes e complacentes. Um brilho prateado passou sobre a terra. Era a foice da morte. Atônitos ficaram e morreram, desintegraram-se (incluindo a mim). O quadro de madeira transfigurou-se num fundo dourado inebriante, meus melhores discursos, minhas atuações, boas ações, meu lado mais humano, meus abraços e tudo aquilo que me caracterizava como uma pessoa naturalmente boa passava como uns flashes, slides voadores e circulavam ao redor como se eu estivesse no centro de um tornado do meu melhor. Ao olhar para cima eu via nuvens muito brancas de onde vinha chuva, água que caía e sumia, não atingia o chão, não molhava. Vi estrelas cadentes romperem as alvas nuvens e desmancharem-se como fogos de artifício, nisto o céu foi encarnando-se até ficar completamente rubro, as cenas flutuantes que me rodeavam caíram por chão e desfizeram-se em sangue. Estava sozinha num mar vermelho, vermelho de sangue, em todos os tons, até o céu. Há vários quilômetros de distância de onde eu estava caiu sobre o solo uma grande bola vermelha, eu não conseguia distinguir o que era a princípio, foi então tal qual um tapete, aquilo começou a se desenrolar. Era uma língua gigante que bifurcava-se em dois chicotes enormes que debatiam-se e da saliva que escoria de suas pontas queimava tudo que tocava, além disso saiam sons de suas papilas, eles perambulavam como fossem notas musicais em uma partitura e a tudo que tocavam partiam ao meio como navalha. Eram mentiras indizíveis e inteligíveis. Tantas eram que não conseguia ouví-las ou discerní-las umas das outras. Fizeram de mim pó, e do pó, partículas e como partícula saciei a fome de todos os germes imundos, tornando-me inferior até as larvas que consumiram as carnes podres do seres vivos sem valor.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Recomeçando?

Tenho algumas coisas para perguntar a você. Primeiro tenho que dizer o quanto amo você. Quero me sanar. Sei que fui horrível e que te fiz muito mal, assim como matei a mim mesma por dentro. Foi de tudo meu pior. Hoje com mais tranquilidade e passados os momentos da fúria, me peguei só e com muita coisa para absorver, pensei que talvez fossem coisas demais para eu compreender, mas estou aqui. Não posso depositar em você meus desejos e querer que eles também sejam seus, isso não seria compartilhar. O que posso fazer é falar e deixar que você decida o melhor para você. Minhas arestas criadas com muita dor e porrada não sararão do dia para a noite, eu as reconheço, mas necessito que você tenha paciência e de vez em quando faça algo que odeia: Puxe minha orelha! Eu preciso e ninguém mais fará isso além de você. Quero ser amada e não mais me iludir que não valho a pena. Hoje eu sei o quão sou valorosa, mas também sou ciente que sou passivél de recaídas de auto estima. Você também teria que se abrir realmente comigo, me deixar saber o que há debaixo da couraça. Agora estou precisando de mais tempo e acho que você também. O que pergunto é:
1- Você me quer a seu lado?
2- Você estaria disposto a doar-se assim?
3- Você se abriria?
4- Você vai me esperar?

8/