quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Primeirando

Te ter em mim, sorver meu desejo aniquilado de ira, de desafeto, das perdas de paciência e respeito... Abrir-se enfim, ignorando todo o medo e o anseio que não podem ser transfigurados no outro, pois há muito mais aqui. Parir meu seio, trafegar minha fome dar-lhe nome e sobrenome... Não fugir, proliferando abrigos dentro de mim, vagas escuras e sombrias, frutos de outros dias e que cada vez mais se afundam. Existir como traço de saudade, austeridade diante da diversidade e o carinho de querer ser o melhor pros dias que hão de vir.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

oo

Para poder morrer

Para poder morrer
Guardo insultos e agulhas
Entre as sedas do luto.
Para poder morrer
Desarmo as armadilhas
Me estendo entre as paredes
Derruídas
Para poder morrer
Visto as cambraias
E apascento os olhos
Para novas vidas
Para poder morrer apetecida
Me cubro de promessas
Da memória.
Porque assim é preciso
Para que tu vivas.

Hilda Hilst
(1930-2004)

Como nascer de novo? Como sobreviver a este parto artificioso? Porque é preciso morrer. A utopia é somente uma crítica dirigida a uma realidade que não agrada. Mas não se pode perseguir quimeras. Para estar aqui só tem duas armas: dignidade e morte. Não há razão que valha desvirtuar a dignidade, da exata forma como não há porque temer a morte, tudo é ciclo, este ciclo infinito e irracional que só pede a incrível medida que confere cada cerne. Eu vou morrer, já de pronto, e depois vem a nova missão tentar descobrir como voltar a vida!

O homem de Ló

Serrei barras de ferro, carreguei garrafões de água, calei a boca histérica dos que elevavam a voz através de argumentos, mas isso tinha a ver com situações passadas deste lado do rio. Pena que na outra margem você não podia ver... Elevando o preço de mercado de algo que o consumidor não há de querer, pois já havia gasto seu soldo de outras maneiras. Sempre foi assim, ninguém é capaz de transformar o outro a não ser fisicamente -a base de cirurgia ou porrada. Qualquer incomodo ou desconforto que eu tenha causado não é mais problema meu, já passou do tempo de ser. Todos tem passado, não me desperta a curiosidade pelo de ninguém, mas me interessa quando o passado de alguém me fere, magoa e volta e meia se faz e refaz na minha frente. Uma pessoa tão amada traiu a minha confiança, o outro a minha fé e você atropelou tudo a volta com este desespero desacerbado... Vou olhar para trás. Quero virar sal, só peço isso: Oh! Grande Intestino me faz estátua de sal! Pois eu não quero mais sentir fome, eu não posso, não tenho forças, tudo água abaixo e eu sal derreteria.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Errança

Pode ser diferente
Pode chegar o dia em que seu filho se alimente
Daquilo que vem da sua terra natal
Que os pés de mandioca não se estraguem
Que a esperança não morgue na impunidade
Que o orgulho dos barcelenses não matem
Pois os corpos estão se esvaindo
Pessoas boas, de fé estão partindo
Os pés e mãos atadas só possibilitam um choro contido
Porque nenhum filho da puta maldito
Que com o poder da máquina brinca de bandido
Asim não quer enxergar.
Quando morre uma pessoa de bem é menos um a incomodar.
A fome num gigante colossal que não fala.
A fome de cultura, de emprego, de pão...
A fome de uma nação de caboclos castigados
pelo fim das panelinhas parasitárias,
Pelo fim da falcatrua, da gambiarra
E pelo começo de uma vida mais justa com sua dignidade.
Basta! Barcelos não é uma puta e sim uma senhora cidade!